domingo, 7 de maio de 2017

Um Arremedo de Autobiografia - Parte 1


Eu me criei num lugar tão remoto que nem mulher tinha por perto. 

Timpas Cadelinho, com três anos de idade

Não tenho vergonha de dizer que perdi meu cabaço comendo uma égua. Até porquê, ela também perdeu o cabaço dando pra mim. Era tipo que uma novinha, tinha uns dois anos se não me falha a memória. Solanja o nome dela.

Só fui saber o que era luz elétrica quando eu tinha oito anos e estava na segunda série. Lembro até hoje da primeira noite em que fechei a porta do quarto, respirei fundo, bati no peito e pensei.

- Minha primeira noite. No Meu Quarto. Com Luz Elétrica!

Da segunda e da terceira eu também lembro, mas não foram tão importantes. Da quarta em diante não lembro mais.

Era um ambiente vivido no ritmo tecnológico do século dezenove. Ferro de passar roupa movido a carvão. Geladeira a querozene. A tecnologia de ponta era uma gambiarra que não sei quem fez que era uma tevezinha preto e branca funcionando a bateria de carro. A bateria de carro era a tecnologia de ponta no caso. Ela era século vinte.

Já exista carro, lógico, mas eu cheguei a andar em dois Carangos das Antrolas Roots. Carroça puxada a cavalo e carroça puxada a boi. A carroça puxada a cavalo chacoalha pra caralho, já carroça puxada a boi é totalmente na maciota. Bois só andam, bois não correm.

De posse desse conhecimento fiz minha primeira trolagem que consta em minha memória. Era uma velhinha que puta que me pariu, não lembro o nome. Que pecado! A gente tinha uma Venda, como se chamava na colônia na época os mercadinhos de secos e molhados e essa velhinha costumava fazer sortimento. Sortimento era uma compra monstro mensal que dava para sustentar uma casa o resto do mês.

E eu não ia com a cara dessa velhinha. E nesse dia o sortimento dela incluiu uma caixa de gasosa. Gasosa era como chamavam refrigerante na tal colônia. Tive uma ideia. Ela levava o sortimento pra casa numa carroça puxada a cavalo. Quê que eu fiz? Peguei um martelo e três preguinhos, um pra usar e dois de reserva. Furei cada uma das vinte e quatro trampinhas das vinte e quatro gasosas da merda do engradado.

Foi bonito de ver.

Quando ela saiu pra ir embora na carroça o que se viu – ou que pelo menos eu tive o privilégio de ver, foi o melhor e mais bem talhado chafariz de todos o tempos.

Essa era de traquinagens durou a era que eu costumo chamar de Era Pré Alfabética. Entre aprender a falar e aprender a ler e escrever. Aprender a falar foi fácil, me ensinaram, aprender a ler e escrever foi mais difícil, tive que me virar sozinho antes de fazer sete anos e começar a ir pra escola.

A era Pré Alfabética foi uma era complicada. Não para mim, mas para quem me criou.

Teve um dia que eu decretei que faria um churrasco de galinha. Não consegui matar a galinha, mas matei os pintinhos. Doze para ser mais exato, uma dúzia. De churrasqueira escolhi um pneu de moto cortado exatamente ao meio, que servia para dar água para, justamente, as galinhas. Para desossar os doze pintinhos usei um serrote. Basicamente eu virei cada um deles ao avesso. Não lembro como fiz o fogo, só sei que a festa acabou quando a fumaça da borracha queimando alertou as autoridades.

Também taquei fogo numa lavoura de milho de três hectares, dormi três noites fora de casa numa lona de caminhão, mas contar essas tretas já seria me estender demais. O que importa é que a era pré alfabética teve um fim. Importa para quem me criou, para mim na ápoca, não teve a mínima importância.

Não me interessava o fim de uma era. O que me interessava era o início de uma nova. E o descobrimento da letra S foi fundamental nesse processo. Tentei de tudo que é jeito descobrir sozinho como fazia, mas não consegui. Pedi para que me ensinassem como se faz a letra que faz o som SSSSSSS. Me mostraram e agradeci com um presente. O desenho de uma torneira aberta e letras Ss pra tudo quanto é lado. Era a última letra que me faltava aprender.

Desde aquele dia, nunca mais fui o mesmo.

O meu irmão mais velho é que se aproveitou. Ganhava apostas na venda de noite, em cima dos trouxas que não acreditavam que eu sabia ler. Outra aposta que ele ganhava dos trouxas não tinha nada a ver com o fato dessa minha nova habilidade.

Era uma parada feita com imã. Só que isso é assunto para outra postagem.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Deixamos de ser bons em criar e contar histórias?


Muito tem se falado sobre a crise de criatividade atualmente no cinema. Até mesmo na literatura, no teatro e na televisão. Onde estão as grandes histórias, os grandes clássicos que ecoam por gerações. É praticamente consenso que se tornaram cada vez mais raros. O que eu penso é que a crise nem é tanto de criatividade, mas de percepção e oportunidade. Não deixamos de ser criativos, novas histórias estão aí, por todo lugar, na mente de muitos criadores, só esperam uma possibilidade de serem contadas.


Vamos analaizar a coisa toda em perspectiva e em termos de suporte. A humanidade, desde os seus primórdios, sempre foi afeita a criar e contar histórias. Primeiramente foi a tradição oral, as histórias eram contadas de boca a boca ou então encenadas teatralmente. Mesmo já existindo a escrita, não se escreviam livros contando histórias. No máximo, peças teatrais eram transcritas para encenações posteriores.


Com o surgimento da prensa de Guttemberg e a facilidade dos livros serem reproduzidos, histórias passaram a ser contadas através deste suporte. Assim, mais histórias foram criadas e contadas através dos livros do que em todo o período da tradição oral, o mesmo pode ser aplicado ao mundo do teatro. Era mais fácil ler um livro e contar uma história apartir de então, do que na época em que era preciso memorizar uma história para poder contá-la, os livros facilitaram a disseminação de histórias.


Uma nova revolução surgiu com a invenção do cinema. Agora não era mais necessário ler as histórias, mas sim apenas observá-las se desenrolando na tela. Da mesma forma que anteriormente através dos livros, esse novo suporte fez com que muito mais novas histórias pudessem ser criadas e contadas. E novamente, essa quantidade superou em muito o período anterior, dos livros.



Os Três Porquinhos, a história talvez mais universalmente difundida através de um novo suporte, no caso o cinema.

 
Com a televisão houve um novo salto. Devido a facilidade de produção e reprodução – além de poder reproduzir as histórias criadas para o cinema para uma quantidade muito maior de pessoas, o novo suporte permitiu a criação de mais e mais histórias ainda, superando de novo o período anterior.


Chegamos então aos tempos atuais, com o novo suporte sendo computadores conectados mundialmente em rede. Aqui o padrão se repete, o novo suporte permite reproduzir todas as histórias criadas nos suportes anteriores e abre novas possibilidades para criação. O primeiro ponto decisivo foi a possibilidade de se publicar na Internet vídeos que ultrapassassem o limite de dez minutos possíveis de serem assistidos on line. O segundo foi quando essa possibilidade foi transposta para os celulares.


A questão que se apresenta então é a seguinte: estamos usando esse novo suporte para criar e contar novas histórias? Nenhum dos suportes anteriores foi morto por seus sucessores, as pessoas ainda contam histórias, lêem livros, vão ao teatro e ao cinema, assistem televisão. Mas estamos usando nossa criatividade para contar histórias através de computadores e celulares?


PS.: Admito aqui que esta postagem é contaditória, ela deveria ser feita em formato de vídeo para computadores e celulares com todas as possibilidade tecnológicas que esse novo suporte oferece.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Eu vi um porco voando


Existe um antiquíssimo ditador irlandês que diz o seguinte: se você ver um porco voando, a primeira coisa que você deve fazer é não falar pra ninguém que viu um porco voando.

Para os não entendedores, o tio Cadelão explica melhor.

Se você, nobre leitor, um dia ver um porco voando, a primeira coisa a fazer é mesmo fechar a matraca e tratar de achar uma corda com comprimento suficiente e tentar laçar o porquinho. Daí o segundo passo é descer o porco até o chão e amarrá-lo a algum tronco de árvore ou qualquer coisa do tipo. E vá dormir ou se ocupar com outra coisa.

Apartir da primeira manhã após o dia da Aparição & Captura, o nobre leitor passará a domar o porco. Um porco com asas selvagem é a coisa mais perigosa do mundo. É capaz de deixar o dono completamente louco. Louco de pedra, louco de internar. Só depois de ter feito tudo isso, será possível e recomendado chamar todos os amiguinhos e dizer:

- Olha gente, eu vi um porco voando e aqui está ele.
Aconselha-se também a dar uma afagada, fazer um carinho, nas asas do porquinho. Ele vai adorar e ainda vai fazer um efeito dramático na platéia.

Eu vi um porco voando. É a ideia de roteiro que bolei para o filme que estou escrevendo. Já laçei e baixei o bicho. Semana que vem viajo pra Pernambuco para amançar a Fera.

sábado, 26 de setembro de 2015

No princípio não havia nada. Então, havia Timpas Cadelão.


Primeiro evento que fiz cobertura: a gravação do DVD Os Cinco Elementos, da banda de pagode Jeito Moleque. É também a foto mais antiga de Timpas Cadelão, fazendo pose com Karla Ikeda.

quinta-feira, 18 de junho de 2015